Violão

Guia resumido da compra de guitarra

Tire suas dúvidas sobre o que analisar na hora da compra da guitarra.

enviado por: Ana Karoline Villela

Em primeiro lugar, o músico deve estar ciente na hora da compra, do tipo de instrumento que ele precisa para o tipo de música que quer tocar. Caso ele seja iniciante, e não possua tal informação,
deverá recorrer primeiro ao seu professor ou a um músico profissional, ou até mesmo a um luthier para obter dados fundamentais para a escolha do seu instrumento.
Só então, poderá ir à loja em busca da compra, pois caso o contrário acabará comprando um instrumento que não atenderá suas expectativas e necessidades, às vezes nem através de intervenções técnicas dos luthiers de confiança.

CORPO
Quando pegar um instrumento, que já visualmente o agradou, pergunte ao vendedor ou verifique nas especificações técnicas que geralmente acompanham o produto, o tipo de madeira a qual é feito o corpo do instrumento.
As mais nobres são normalmente mais caras e na maioria das vezes proporcionam timbres melhores.
Dentre elas destaco como mais comuns: Alder, Ash, Maple, Mogno, Bass Wood, Cedro... O corpo também pode ser feito de madeiras nada nobres que são compensado e MDF. Nesses casos madeiras não maciça, porém coladas em lâminas
e uma espécie de aglomerado de materiais. Não existe nada errado em ter um instrumento com corpo feito desse tipo de madeira, embora eles não proporcionem som com grandes sustentações (normalmente instrumentos feitos desse material,
por serem mais baratos, tornam-se uma boa opção para músicos iniciantes ou com menor poder aquisitivo).
Outro item importante a ser observado no corpo do instrumento, é se ele não apresenta nenhuma rachadura em algum dos lados. Mesmo pintado, é possível, se olhar contra a luz, ver alguma evidência de rachadura ou possível rachadura.
(não confundir com a emenda que muitos corpos possuem. As emendas sempre são retas e na maioria das vezes estão no centro do corpo ou nas extremidades laterais, sempre verticalmente).

BRAÇO
O braço mais comumente é feito em Maple com escala em Jacarandá, pau ferro, ou Maple com escala em ébano, ou todo em Maple ou em Marfim (essa última mais comum em instrumentos nacionais). Todos esses materiais são bons para a fabricação de braços.
A escolha se dá, em sua maioria, pelo aspecto visual e construção (largura, comprimento, espessura, conforto que proporciona) do que propriamente pelo material.
O instrumento pode se apresentar na loja, no aspecto tocabilidade, horrível. Isso se dá muitas vezes, por não ter sido previamente regulado. Mesmo quando previamente regulado, ele pode não estar oferecendo tudo àquilo que o músico esperava ou
gostaria que ele oferecesse. Isso porque essa pré-regulagem visa apenas tornar o instrumento com uma estabilidade padrão, não o dirigindo para nenhum estilo ou técnica em especial.
É importante verificar alguns certos itens que citarei para saber se a tocabilidade que agora não está do agrado, poderá em breve, após a regulagem de seu luthier, estar satisfatória.
Normalmente, na loja, o instrumento apresenta ação de cordas alta e muitas vezes com trastejamento. Verifique se isso apenas se dá por não estar regulado ou por defeitos mais graves. As cordas podem estar altas porque o braço está um tanto côncavo
(FOTO 01) precisando de ajuste no tensor. A forma de se visualizar isso é tomar o instrumento nas mãos olhando o braço lateralmente contra a luz (FOTO 02), verificando nas laterais a curvatura.
Se essa curvatura for pouco acentuada (FOTO 03) o tensor corrigirá e o instrumento ficará bom. Se a curvatura for muito acentuada o tensor poderá não corrigi-la e aí teremos um braço empenado.
Nas ilustrações estamos demonstrando essas deformidades com uma régua, pois, se fosse com um braço de guitarra, seria mais difícil perceber o problema haja vista que a lente da máquina fotográfica, não demonstra facilmente essas irregularidades
com o olho humano.
Outro fator determinante para cordas altas e trastejamento, é braço torcido. Chamamos assim o braço que, quando a concavidade verificada lateralmente não é a mesma quando verificada a outra lateral. Se a discrepância dessas curvaturas for grande
(ex.: um lado se nota estar côncavo e outro convexo), esse instrumento não deverá ser comprado (esse problema tem solução, porém o custo é muito alto e só vale a pena solucioná-lo quando já se possui o instrumento e realmente quer mantê-lo).
É importante observar também no braço através dessas visualizações laterais, (FOTO 02) que independente de estar côncavo ou convexo, se não existe alguma irregularidade na sua extensão Se houver, pode ser irreparável, mesmo através da regulagem, pois o tensor
atua no braço de uma forma geral e não corrige defeitos ou irregularidades localizadas.
O instrumento pode estar com ação de cordas baixas e às vezes altas, e trastejando da 1.casa à 5.casa. Deve-se verificar através do processo da visualização das laterais do braço se ele não está convexo. Se estiver e a curvatura for pouca, até poderá ser
corrigida soltando-se o tensor.
Outra questão, é que uma boa parte dos instrumentos, principalmente os de Headstock inclinado, possuem a madeira do braço emendada um pouco abaixo do Headstock. Verifique se esta emenda não está se descolando, passando a mão sobre ela. É possível notar algum
relevo se ela estiver se soltando.

TRASTES
Deve-se observar no instrumento a ser comprado se os trastes estão com seus perfis arredondados e intactos. Não pode haver marcas de limas ou lixas, pois isto indica que há irregularidades na escala ou na colocação dos trastes, e que foi dado um “jeitinho”
para que o instrumento não apresentasse
algum tipo de trastejamento.
A forma de visualizar isso é como citei acima, verificando se todos estão com seus perfis arredondados, uniformemente alinhados, não havendo trastes achatados pela ação de limas. É comum notar esse “jeitinho” mais no fim da escala, com o intuito de esconder
empenamentos e torções localizados.
Preste atenção: Esse tipo de instrumento não deve ser comprado, pois pode ter quase que se gastar, futuramente, uma verba considerável com um luthier para retificar a escala e trocar os trastes.
Sempre lembrando do bom senso na hora de julgar um possível trastejamento. A ação de cordas do instrumento testado pode estar baixa com intuito de torná-lo macio e confortável, e o músico na hora do teste pode estar “descendo a mão” e aí julgar que o instrumento está impróprio.
Verifique todos os itens anteriores, faça todas as possíveis análises para poder ter critérios para um julgamento. Instrumento com ação de cordas baixa, devem ser tocados com menos força para não trastejarem. Isso não caracteriza defeito, e sim uma opção de regulagem.

REGULAGEM
O instrumento pode estar “duro” de tocar e com cordas altas e, não necessariamente estar empenado ou com defeito. Uma vez visto através de visualização das laterais do braço (FOTO 02), verificando que não há torções nem empenamentos, o braço está reto, equilibrado.
Observe o nut (capotraste) ou o locking nut (trava de cordas) (FOTO 03) e perceba se as cordas não estão partindo muito altas deles. Se estiverem, isto torna o ato da digitação difícil, pois tem que se fazer muita força para que as cordas toquem os trastes para produzir a nota.
Esse problema um luthier pode facilmente regular e tornar equilibrada essa ação. Pode acontecer o contrário, também. As cordas quando tocadas soltas podem trastejar. Verifique se no nut ou no locking nut, as cordas estão partindo tão baixas que estão encostando no
primeiro traste e causando o trastejamento.
Toque na primeira casa. Se parar o trastejamento é porque realmente o problema está no nut. Se não, o problema pode estar na ação do tensor. Certifique-se de que o braço não está muito convexo. Se estiver, aí está o problema. Se não estiver convexo o braço, o problema pode estar nos trastes.
Aí é prudente testar outro instrumento ou ligar para seu luthier buscando informações.
A ação de cordas na ponte também ajuda a determinar se o instrumento está trastejando com facilidade ou se está “duro” e difícil de ser tocado. As cordas partindo muito baixas da ponte, embora facilitem a execução de escalas também limitam a força da mão direita (se tratando de um músico destro).
As cordas partindo altas da ponte tornam o instrumento difícil de ser tocado. Um luthier equilibrará isto com facilidade também, porém preste atenção em todos os itens para poder julgar o que está sendo comprado.

PARTE ELÉTRICA
Potenciômetros e chaves com ruídos quando manuseados, indicam sujeira nos componentes. Isto não é um problema irreparável, ao contrário, quase sempre de fácil solução, porém, se puder ser evitado melhor.
Verifique se todos os captadores funcionam. Procure ouvir em separado o som de cada um deles, comutando-os através da chave de seleção. Com uma moeda bata levemente sobre cada um deles, para realmente verificar se todos estão funcionando.
Coloque a chave de comutação em cada posição oferecida e vá batendo nos imãs dos captadores com a moeda. Verifique qual captador naquela posição da chave funciona e qual não funciona. O qual estiver funcionado fará um “toc” mais alto no amplificador do que o que não estiver atuando.
Teste em todas as posições da chave. No final do teste, todos os captadores deverão ter feito o ruído (“toc”) no amplificador.
Observe com a atenção os humbuckers. Todas as duas bobinas, quando tocadas pela moeda, deverão soar “toc” no amplificador. Importante isto, para que não se compre um instrumento com captadores pifados ou com humbuckers apenas com uma das bobinas funcionando.
Fique atento também com a inscrição: “DESIGN BY”. Ex.: Design by EMG ou Duncan Design e outros. Essa inscrição significa que o captador foi desenhado parecido com o EMG, ou com Seymour Duncan, ou sob licença deles, ou que possua algumas características sonoras ou visuais desses captadores.
Isto não indica que sejam dessas marcas de captadores.
É comum as pessoas se iludirem achando que estão comprando instrumentos com captadores de primeiríssima linha, e às vezes pagam preços até abusivos por isso. Não que esses captadores DESIGN BY não prestem. Às vezes são até muito bons, porém não se deve confundi-los com os originais.

HARDWARE
Fique atento com o cromo das tarrachas, pontes, straps, enfim, tudo que for parte de metal, e verifique se não está descascando o banho com indícios de ferrugem ou amassado.
Verifique se não há folgas nas tarrachas. Elas não podem ser “duras” para enrolar ou desenrolar as cordas. É claro que isso varia um pouco de acordo com a qualidade que ela possui, todavia não deve ser preciso fazer força para atuá-las.
Deve-se balançá-la para ambos os lados para observar se não há folgas. As tarrachas devem ser firmes sem folga alguma.

PINTURA
Observe se não há evidência de batidas ou amassados contundentes na pintura. Não se iluda, retoques em pinturas não são fáceis nem baratos.

BRAÇOS INTEGRADOS
Quando estiver comprando um instrumento o qual o braço for integrado ao corpo, ou seja, não existem parafusos de fixação no braço, certifique-se se existe a possibilidade de abaixar a ponte, para se conseguir uma ação de cordas baixa. Pois, se o braço tiver sido mal integrado ao corpo,
muitas vezes as cordas ficarão com uma ação alta, pois o braço está abaixo do nível em relação ao corpo, do que deveria estar.
O mais comum é serem dois pivôs ou duas porcas de ajuste. Se perceber que não é possível chegar à ação de cordas necessária, procure informações com algum luthier ou fuja dessa compra, pelo menos momentaneamente, até ter certeza do que está comprando.

FLOYD ROSE
Se estiver interessado em um instrumento com trêmolo flutuante (tipo Floyd Rose), verifique se no corpo do instrumento existe um “back Box” (compartimento para que o trêmolo afunde para dentro do corpo), para que o trêmolo atue tanto para cima como para baixo. Caso não tenha esse trêmolo,
só decairão as notas quando alavancado ou dependendo da regulagem, talvez suba as notas, porém bem pouco.
Isso não é um problema, desde que você saiba e ou queira isso. Ë possível fazer o Back Box em um instrumento que não o possua, entretanto, essa operação tem um custo, e é bom que você esteja ciente disso no momento da compra.
Verifique também o tipo da fixação da haste do trêmolo.
Veja se a haste possui uma espécie de “porca” de fixação, pois esse tipo é mais eficaz, no ponto de vista firmeza (sem jogo ou folga) do as convencionais com rosca na própria haste.
Existem também alguns tipos de sistema que possui um parafuso Allen de travamento da haste localizado no compartimento onde é rosquiado a haste, isto também impede que existam folgas.
Bem, Tendo todos esses cuidados e critérios, com certeza as chances de você se decepcionar com a próxima guitarra que comprará serão poucas.
Importantíssimo lembrar, que, após a compra, leve seu instrumento ao seu luthier para que ele lhe dê um diagnóstico mais detalhado e preciso sobre o produto que você adquiriu. Isso para que, se no caso houver algum problema, você tenha tempo de recorrer à sua garantia.

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Foto 1

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Foto 2

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Foto 3

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